Moonlight Knight Recruta
| Assunto: Noites de Luar - Capítulos 5 e 6 Sáb Fev 06, 2010 1:27 pm | |
| Capítulo 1: A garota em cima da minha casa- Spoiler:
Era uma noite quente. Quente demais para uma noite de outono. Grilos cricrilavam e sapos corujas piavam. Era uma noite barulhenta. Barulhenta demais para uma noite de outono. Não durmo direito faz um bom tempo. Acho que ninguém estava dormindo bem, não com a iminência de uma guerra civil. Por que as pessoas insistem em fazer guerras? Por que as pessoas insistem em querer machucar umas as outras? Por que as pessoas insistem em querer impor suas crenças sobre as outras? Por que, por que, por que? Tantas perguntas vinham a minha mente. Me sentia cansado. Meus braços pareciam que iam cair. Meu corpo estava em cacos. Queria desmaiar, mas não conseguia. Por mais que tentasse meu cérebro não parava de trabalhar. Bam, bam, bam, bam. Passos. Haviam passos vindo de cima da minha casa. Seria um ladrão? A cidade andava violenta. Me levantei. Fui para minha cômoda onde guardava um faca. Armas de fogo são caras demais e além do mais se o governo me pegasse com uma eu seria preso e executado. Abri a gaveta e peguei a faca. Não era muito grande mas era muito bem feita. Meu avô tinha me dado ela. Ele disse que um dia ia precisar dela. Fui para a varanda. De lá dava para ver o teto do meu quarto. Subi pela escada da varanda e cheguei no teto. Havia uma garota lá. Uma bela garota. Cabelos pretos tão longos que mesmo de pé as pontas tocavam chão. Usava um vestido preto, bem simples. Estava lá, parada, olhando para algum lugar. Ela não se mexia. Talvez não tivesse me visto. Não sei. Também não me importa. Achei melhor tomar a iniciativa: - O que está fazendo em cima da minha casa? - Foi o que eu perguntei. Agora acho que não foi a pergunta certa. Ela virou o rosto para mim. Os olhos eram bonitos. Cor-de-rosa como flores. Ela ficou me encarando: - Eu perguntei o que você está fazendo em cima da minha casa. Ela continuou olhando para mim. Não se mexia. Que garota estranha. De repente ela se virou para a direção em que estava olhando antes da minha primeira pergunta. Levantou a mão e apontou para a lua: - A lua. - A voz dela era suave. Tão suave que nem parecia de um humano. - Que tem a lua? - Estou olhando para ela. - Mas por que de cima da minha casa? - E por que não? É uma boa pergunta. "E por que não?". O que tem de mais em olhar a lua de cima da minha casa. A vista é boa e a lua é tão bonita. Resolvi tentar me aproximar. Me sentei do lado dela que permaneceu de pé, parada, olhando para a lua. Não conseguia parar de pensar em quem era aquela garota. Resolvi perguntar. Não tinha nada a perder mesmo: - Quem é você? Ela se sentou. Será que disse algo que não devia? Ela se virou para mim e disse algo que mudou minha vida daí para frente: - Um demônio.
Capítulo 2: O demônio que recusou aquilo que é mau- Spoiler:
Aquilo foi uma resposta inesperada. Por um segundo eu quis rir. Rir como jamais ri antes. Rir, rir, rir e rir mais. Mas não podia. Ela estava séria. Séria demais para quem acabara de contar uma mentira. Não sentia que aquilo era mentira. O que isso quer dizer? Que o que ela disse é verdade? Mas demônios não existem. Ou será que existem? Aquilo me deixou nervoso. Tão nervoso que me se senti sufocado. Senti como se minha garganta estivesse sendo apertada. Continuei a conversar com ela para tentar espantar o nervosismo: - E o que um demônio faz em cima da minha casa? - Perguntei aquilo sem pensar. Foi uma pergunta idiota mas pelo menos espantou um pouco do nervosismo. Ela ficou lá, sentada, parada, olhando para a lua: - Eu estou olhando para a lua. - Aquilo foi uma resposta direta. Foi engraçado ela ter dito isso. Era óbvio que ela estava olhando para a lua. Resolvi continuar perguntando. Por alguma razão conversar com ela me deixava... alegre: - E o que um demônio está fazendo no mundo dos humanos? - Procurando uma coisa. - Nesse instante, nesse curto instante senti como se ela estivesse triste. Pela primeira vez ela havia demonstrado um sentimento. Me virei para ela como uma criança curiosa: - E o que procura? Ela se levantou e eu fiquei olhando para o rosto dela. Ela olhou para o céu e começou a falar: - Era uma vez uma garota que nasceu num mundo do qual ela não gostava. Um mundo no qual seus habitantes eram seres cruéis e que apenas pensavam em si mesmos. Essa garota cresceu criada por pais que batiam nela e castigavam por ela questionar o que as pessoas faziam. Um dia essa garota ouviu falar de um mundo no qual as pessoas se importavam umas com as outras. E desde então a garota busca esse mundo. Pensamentos começaram a correr minha mente. A garota da história. A garota que fugiu do mal na busca por um mundo perfeito. É triste. Numa busca como essa ela teve que vir parar logo nesse país. Nesse país onde o povo insiste em querer guerrear em nome daqueles que eles chamam de Deuses. Me sinto triste por ela. Gostaria que ela não tivesse que ver isso. Não quero que ela perca as esperanças. Mas por que? Por que eu sinto essa empatia por uma garota que mal conheço? É estranho. É muito estranho. De repente ela se virou para mim: - Tenho que ir. Por que ela me disse aquilo? Antes que pudesse perguntá-la isso outra pergunta saiu da minha boca por puro reflexo. Uma pergunta que não pensei que pudesse fazer: - Você vai voltar amanhã? - Por que perguntei aquilo? Me sinto... confuso. - Sim. Uma palavra. Uma unica palavra mas que me fez sorrir: - Até amanhã então. - Até. Após essa curta despedida ela pulou do telhado da minha casa para o telhado do meu vizinho, e do telhado do meu vizinho para o telhado do vizinho dele. E assim continuo até sair do meu campo de visão. Um humano não poderia fazer aquilo. Mas não me surpreendi, afinal, ela é um demônio. Fiquei lá, parado, olhando para a lua por mais alguns minutos e então fui dormir. O dia seguinte passou rápido. Estava ansioso. Ansioso para me encontrar com ela a noite. Meu trabalho como vendedor não me cansa muito. Meus clientes diziam que nunca haviam me visto com uma jeito tão alegre. Entretanto uma visão cortou minha alegria. Um homem entrou na minha loja. Um homem que antes não me assustaria mas que agora significa perigo. Um homem com cabelos pretos curtos, óculos escuros e uma toga preta com uma cruz no colarinho. Aquele homem era o que chamam de exorcista. Capítulo 3 - Aquilo que eles chamam de amor- Spoiler:
A visão do exorcista foi mais assustadora para mim do que jamais seria para qualquer outro. Jamais consegui me aproximar de ninguém. Eu tinha medo das pessoas. Medo. Esse sentimento que tomou conta de toda minha vida agora estava maior do que jamais esteve. Estava em pânico. Não queria perder a unica pessoa de que já me aproximei. É irônico que eu que jamais pude me aproximar de ninguém por medo da crueldade tenha tido como primeiro amigo um demônio. ... Um demônio? Seria aquela a razão daquele homem estar lá? Será que ele foi enviado para matar aquela garota? Não vou permitir... Não posso permitir.... Jamais deixarei que façam nada contra ela! ... Antes que pudesse perceber ele estava frente-a-frente comigo. Numa mão segurava a cesta de compras. Talvez ele não estivesse lá para trabalhar. Talvez ele só estivesse lá para um congresso ou para visitar um amigo. Mas e se não for isso? Se ele realmente quiser fazer mau a ela eu tenho que avisá-la. Eu tinha que saber: - O que um exorcista faz aqui? - Foi o que perguntei enquanto registrava os últimos itens da cesta dele. - São R$ 7,50. - Fui enviado para cuidar de um demônio que habita essa cidade. Por uma instante perdi o ar. Senti como se uma flecha tivesse sido atirada no meu pulmão. Não havia dúvidas, ele estava atrás dela. Eu tinha que avisá-la. Antes que pudesse notar ele havia deixado o dinheiro em cima do balcão e saido. Durante o resto do meu dia a angústia tomou conta de mim e a noite eu me encontrei com ela que estava tão calma quanto é possível alguém estar. Quando falei para ela sobre o exorcista ela não pareceu estar preocupada ou sequer surpresa: - Eles foram rápidos. - Você não está preocupada? - Não. Já me acostumei com as perseguições. Naquele momento senti que ela era mais parecida comigo do que pensei. Naquele curto momento meus sentimentos por ela mudaram. Então é isso? É isso que eles chamam de... Amor? Capítulo 4 - A Noite sem Luar- Spoiler:
Durante as duas semanas seguintes continuei me encontrando com ela todas a noites. Durante as duas semanas seguintes me aproximei mais e mais dela. Durante as duas semanas seguintes me apaixonei mais e mais por ela. Antes que me desse conta era quase primavera e em breve o festival da primavera teria início. Decidi que iria convidá-la para ir comigo. Naquela noite esperei por ela como jamais havia antes feito já que nessas duas ultimas semanas ela chegou aqui as 23:12. Em nenhum dia ela chegou antes ou depois. Jamais tinha visto alguém tão metódico e perfeccionista quanto aquela garota. Acho que é por isso que me apaixonei por ela. Uma garota completamente diferente de todas as outras. Uma garota unica. Blen, blen, blen... O relógio da igreja tocou doze vezes. Meia noite e ela ainda não havia chegado. Um pensamento tomou minha mente. Por mais que tentasse faze-lo sumir ele permanecia lá. Me torturando. Coloquei a mão no bolso e vi que minha faca estava lá. Desci do teto correndo e fui para as ruas. Corri em direção a igreja tão rápido quanto meu corpo podia. Atravessei as ruas escuras e vazias daquela cidade sombria sem olhar para os lados. Cheguei no meu meu objetivo: uma igreja vitoriana cercada por um portão de ferro da minha altura. Após pulá-lo andei pelo caminho de paralelepípedos coberto de folhas de laranjeiras caídas. O som do vento batendo nas árvores tornava a situação tão tensa quanto é possível uma situação ficar. No fim da trilha estava a entrada para a igreja. Antes de entrar olhei para o céu e vi que a lua estava encoberta por nuvens. Hmpf... Na primeira noite em que ela não apareceu a lua também não apareceu... Abri a porta e vi, amarrada numa cruz de ferro por correntes enferrujadas e com o vestido manchado de vermelho, aquela que eu amava e, com uma faca em mãos e um sorriso sádico no rosto, aquele exorcista que dias atrás encontrei. Ao notar minha chegada ele se virou para mim sem parar de sorrir: - Bem vindo à minha festa. Capítulo 5 - Então isso é a morte?- Spoiler:
Olhei no fundo daqueles olhos cruéis tentando encontrar uma razão para o que ele estava fazendo. Meu primeiro desejo foi de sacar minha faca e rasgar a garganta com um único golpe. Mas não consegui. Meu corpo não obedecia meu cérebro e eu não conseguia me mover. Tudo que podia fazer era olhar para aquela situação assustadora sem poder fazer nada. Naquele momento senti ódio. Ódio daquele homem por estar torturando alguém que jamais fez nada contra ninguém e de mim por ser fraco demais para detê-lo. Fraco... É isso que eu sou? Fraco? Fraco? Fraco: - Sabe... - Disse ele pegando a faca e passando-a na batina para remover o sangue - Quando entrei na sua loja não esperava nada. Achei que só fosse comprar o que havia ido comprar e ir embora. Porém a providência divina é grande e poderosa e de onde não esperava nada veio uma revelação. Ele se virou para ela e apertou o lado da faca contra o rosto pálido pela perda de sangue: - Ele é tão bonita... Pena que é um demônio... - Foi o que disse enquanto passava a língua pelo pescoço dela. Aquela cena repulsiva me despertou do estado de choque. Passei a mão pelo meu bolso e peguei a faca de bolso. Comecei a andar vagarosamente em direção à ele com a faca a vista. Ao ver que eu me aproximava ele tirou uma arma de fogo de dentro da batina e apontou na minha direção: - Não seja tolo. essa herege te infectou com seu veneno. Demônios vivem para fazer com que os homens caiam. - O que você sabe? Não passa de um cão sem vontade! - Você ainda pode se salvar, homem. Apenas saia daqui e esqueça que conhecei essa coisa. Coisa. Como ele ousou chama-lá de coisa? A fúria que tomava conta de mim apenas crescia pelas palavras dele: - Ela é infinitamente mais humana que você! - Blasfêmia! - Ele gritou. - Alguém capaz de torturar alguém que nem ao menos conhece apenas porque foi mandado faze-lo não é digno de ser chamado de humano! - Disse isso enquanto apertava a faca com as duas mãos e apontava para o desgraçado. - Esse monstro já tomou sua mente. Terei que exorcizá-lo com o metal de minhas balas porém rezarei para que sua alma encontre o caminho para o céu. Virando-se de frente para mim e segurando a arma com a duas mãos. O som da arma sendo engatilhando chegou ao meu cérebro como um sinal de alerta. Meus batimentos cardíacos aceleraram e minha respiração ficou mais e mais rápida. Será esse meu fim? Eu não posso morrer! Eu não posso morrer! Eu não quero morrer! Queria gritar mas o som não saia da minha garganta. Tentei andar mas minhas pernas estavam paralisadas. Por mais que tentasse me mexer não conseguia. Não quero morrer! Não quero morrer! Não quero morrer! Não quero morrer: - Descanse em paz. Fechei os olhos e ouvi um som alto. Senti algo quente e molhado na minha camisa. Não senti dor. Então isso é a morte?
Capítulo 6 - Quer sair comigo?- Spoiler:
Estou... morto? Abri os olhos. Minhas visão ainda estava embaçada. Soltei a faca e esfreguei a mão no rosto. Minha visão voltou ao normal e então eu vi... As correntes haviam sido rompidas. Pedaços delas estavam espalhados pelo chão. A boca do exorcista estava ensanguentada e seus olhos sem luz. A arma que outrora ele apontava ameaçadoramente para mim estava caída a seus pés. Do peito saia uma mão, fina e branca e daquele ponto brotavam fios de sangue que desciam pela roupa até o chão onde formavam uma poça vermelha. Num movimento rápido a mão sumiu do peito e o corpo morto caiu sobre a poça de sangue que espirrou para todos os lados. No céu as nuvens se dissiparam e através da janela uma luz fraca iluminava a morte daquele homem. Com as mãos e vestido molhados de sangue a garota se aproximou de um eu confuso: - Você está bem? Alguém que instantes atrás tinha uma faca cravada na barriga perguntou se eu estava bem. Senti lágrimas correrem pelos meu rosto. Olhei para aquela figura gentil e tantas perguntas vieram a minha cabeça que nem mesmo em um ano inteiro poderia faze-las todas. Abracei-a e naquele instante não haviam mais perguntas. Não me interessavam os porque. Não me interessava os como. Só me interessava abraça-la. Sentir o calor daquele pequeno corpo. Por alguns instantes ela ficou imóvel enquanto eu a abraçava mas então, com uma ternura angelical, ela passou os finos braços pelas minhas costas e me abraçou de volta. Nos abraçamos sob a luz de uma lua curiosa que nos olhava por através das janelas de vidro decorado daquela igreja vitoriana. Ainda abraçado a ela me lembrei que no dia seguinte seria o aniversário da cidade e como todo ano haveria um grande festival. Paramos de nos abraçar e eu segurei as mãos dela. Olhando no fundo daqueles olhos cor-de-rosa peguei toda minha coragem: - Amanhã será o festival em comemoração ao aniversário da cidade e eu queria que você fosse comigo. Então, quer sair comigo? - Eu adoraria. - Foi o que ela disse com a face corada e os olhos brilhando com a luz do luar.
|
|
Moonlight Knight Recruta
| Assunto: Re: Noites de Luar - Capítulos 5 e 6 Ter Fev 09, 2010 7:22 am | |
| Hiya. Só passando aqui para atualizar a história (Whatever...). Fiquem de olho :/ |
|