Como qualquer um pode notar ao ver os tópicos que iniciei aqui nessa área, embora sejam eles, regra geral, direcionados para este ou aquele tópico específico, têm eles em comum orbitarem esse tema maior que é o politicamente correto. É este o monstro-motor que move e devora, que amedronta e esmaga a sociedade moderna.

Ao contrário do que pode-se pensar à primeira vista, o politicamente correto não é mera questão de opinião. Seria se quem o fosse entronizasse para si as suas práticas e pressupostos ou se, ao exteriorizarem essa visão de mundo, o fizessem somente na base da conversa, da pressão social ou do desprezo, todas essas ferramentas de que todos dispomos para sustentar as nossas opiniões. O que vai além dessas práticas saudáveis e legítimas (embora desagradáveis) extrapola o âmbito da mera opinião e se torna autoritarismo - é autoritário todo aquele que, não tendo sido atacado primeiro, defende seus pontos de vista por meio de força ou ameaça. E não existe autoritarismo mais pernicioso e acachapante que aquele patrocinado pelo Estado. E é aqui que se encontram os defensores do politicamente correto.

Em nome desse bem maior que é a civilidade, a moralidade e o bem estar coletivo, justificam-se atos de coerção contra práticas, hábitos ou mesmo opiniões que só dizem respeito àquele que as têm, que as pratica. Em uma situação normal, alguém que não goste de fumaça de cigarros poderia argumentar com a pessoa ao lado sobre os males do cigarro; poderia simplesmente pedir que ela pare de fumar ou que se afaste; ou poderia ainda ela mesma sair dali. O mal do uso do aparato estatal é que, sem que haja qualquer diálogo, uma das duas partes igualmente legítimas - aquele que fuma e aquele que não fuma - se arroga o poder de forçar a outra a obedecê-la. Ao socorrer-se na força o politicamente correto, supostamente a parte moralmente superior, esmaga não só o direito daquele que age contrariamente aos seus desmandos, mas esmaga a própria bolha de segurança ética ao relativizar o princípio-mor da liberdade em prol de... ficar sem fumaça.

Mas aí estamos falando de fumar, que é até por mim mesmo visto como hábito sujo e desagradável. E quando o politicamente correto se alça a nos proibir de pensar deste ou daquele jeito? Hoje em dia não se pode lançar estudar o fenômeno da discrepância de gêneros - há alguns anos, reitor de Harvard mencionou pesquisa própria sobre como existem muito mais homens na faixa de QI tida como "genial" e foi demitido por isso. Não poderíamos fazer estudo semelhante para aferir o QI de pretos, com certeza. Não podemos sequer questionar se o homossexualismo é adquirido ou congênito, que a patrulha do politicamene correto não deixa. Não podemos muita coisa. Nossa opinião está sendo cada vez mais estrangulada; dia-a-dia os temas sobre os quais podemos contrariar os outros vai diminuindo. Há aqueles que enfrentam essa pressão, claro, mas não se pode exigir de todos a força para fazer oposição à maioria e à censura geral - imprensa, academia, governo. Boa parte de nós se cala, preferindo o não-enfrentamento. A maioria passa para o time que está vencendo, se transmutando eles mesmos em censores "do bem".

Creio eu que o aspecto mais sinistro do ativista politicamente correto é que ele é bom. Ele se arroga certas qualidades e virtudes praticamente divinas, absolutas, contra as quais quem se posiciona contrariamente é necessariamente uma pessoa desprovida de moral, uma pessoa malévola, uma pessoa que só adota essa postura porque é fascista, retrógrado, reacionário. Um inimigo da sociedade. Um inimigo do Estado. É a missão de todo ativista politicamente correto ou corrigir ou eliminar esses inimigos, e nessa cruzada todas as armas são justificadas. Do lado deles, claro. O inimigo que aceita passivamente o rolo compressor só não é mais espúrio e indigno que aquele que reage, afinal.

A bondade do justo autoritário é sinistra porque é cruel. Safados e malandros cessam suas atividades corruptoras quando acham que têm o bastante, mas o bonzinho cruel não para por nada. Sua missão é justa e só se cumprirá quando o último dos inimigos for eliminado ou purificado. O ativista politicamente correto quer o seu bem e o forçará a aceitá-lo porque sabe o que é melhor para você, ainda que você mesmo discorde. Ainda que sem consultá-lo, é em nome do seu bem que ele impõe a todos o que ele considera mais correto, mais justo, melhor. É em nome do seu bem que ele acaba com a sua liberdade de escolha. E é porque ele luta pelo seu bem que ele dorme tranquilo à noite.

O politicamente correto não é apenas um ponto de vista, uma opinião. É o déspota moralizante que justificou todas as tiranias da história da humanidade. A carapaça é nova, mas o monstro existe desde que o mundo é mundo. O exemplo é manjado, mas cai como uma luva: Sócrates, o homem mais sábio de sua geração e cujos ensinamentos geraram frutos em Platão e Aristóteles, base da filosofia ocidental moderna, foi forçado à morte por envenenamento pelo Estado ateniense por ser politicamente incorreto. Não devemos contrariar o consenso de retidão somente por discordarmos dele, mas principalmente por conta de seus métodos de coerção, de uniformização forçada de pensamento, que são o germe do totalitarismo coletivista.

O despotismo sempre se justifica primeiro com a bandeira da bondade, do estreitamento de diferenças e da justiça. O politicamente correto é a própria bandeira que engloba todas essas reivindicações, e por isso é a mais terrível.

Spoiler:

Faz um tempo já que não assisto tv, principalmente tv aberta, principalmente programas de comédia - casseta & planeta, pânico, cqc, legendários, pro raio que o parta. Enfim, ontem vi um dos blocos do cqc em que o programa colocaria "a limpo" o que houve realmente no caso Bolsonaro, famigerado caso Bolsonaro/Preta Gil.

Meu irmão assistia o programa comigo e não fazia a menor ideia de quem seria o sujeito, de modo que até tive de explicar por cima o que houve. Fiz questão de dizer que o deputado é um cara ora ridículo, de opiniões polêmicas e caricatas, dei exemplos de pontos de vista dele que considerava idiotas, que era pro meu irmão já sair com uma imagem bem meia boca do Bolsonaro, a fim de não dar-lhe nenhuma vantagem indevida.

Pois bem. Matéria no ar, estamos assistindo as perguntas e respostas dadas em programa anterior, e como elas eram reafirmadas pelo próprio objeto da celeuma de maneira bem humorada, ainda que fossem claramente respostas sérias e que expressavam o seu ponto de vista. A certa altura vem a tal pergunta da Preta Gil, e o deputado reconhece "ok, eu devo ter me equivocado, acho que não ouvi direito - o que eu quis dizer foi..." e falou o que quis dizer sobre os gays, de como ele não respeitava a promiscuidade homossexual e os péssimos exemplos da Preta.

Problema resolvido? Nããããão! Claro que não!

Marcelo Taz, líder do programa, faz então questão de mostrar foto da sua filha, dizer que ela é gay e que ele tem muito orgulho dela. E então detona o deputado, dizendo que ele é um mentiroso, pois seria impossível ter se equivocado; que ele tem legitimidade para falar o que quer só porque foi eleito, mas que não deveria ter sido eleito coisa nenhuma (quer dizer, não teria legitimidade de fato); que todos têm o direito de dizer o que pensam, mas que opiniões como a dele não poderiam ser ditas em público (quer dizer, só os que concordam com ele têm o direito de dizer o que ele, Marcelo Taz, pensa); e que afinal o deputado é um safado, que o país não precisa de gente safada e é isso.

Eis o exemplo prático da minha crítica, ontem, no cqc. Meu irmão, que é um completo alienado em assuntos políticos logo comentou: "o careca aí levou pro pessoal, aí perdeu né?".

Para terminar, um vídeo do Lula, em que ele faz comentário inoportuno sobre a questão da homossexualidade, mas que por alguma razão nunca teve muita repercussão entre o movimento LGBT:

Não sei se tem algo a ver com o tópico, mas ó esse video que vi esses dias:

Spoiler:

Não tem nada a ver, Boca, mas obrigado pela participação.

Mas a série que eu trago tem. Tá em inglês, infelizmente:





E agora, prestem atenção no que diz o reverendo negro sobre o caso:



Até ele entende o poder dos tentáculos do "politicamente correto".