Lani Romée Major
Registro : Lanisso : Humano : Bard 7 / Playwright 7 / Boxer 5 / Iron Chef 5 / Ace Attorney 3
| Assunto: Valentina Ter Jul 12, 2011 9:30 pm | |
| Prólogo:- Spoiler:
"Eu entendo a sua situação. Acredite, eu já sentei nessa exata mesma cadeira em que você está sentado agora."
Naquele aposento úmido, abafado, de iluminação despossuída e carente de confortos, com apurada dificuldade se distinguia duas tarimbadas silhuetas acorrentadas a um duelo de defrontes. Uma delas, amarrada e abatida, permanecia agressivamente silente. De sua figura só se ouvia o chapinhar das grossas gotas de sangue e de suor que vazavam de seu rosto e logo despencavam como martelos aos seus pés. Seu companheiro, visivelmente menos padecido do recente conflito que travaram, descansadamente bamboava-se de lá pra cá em sua própria cadeira de balanço. Cada vai e vem de seus movimentos traduzia-se em habilidosas fisgadas de aperitivos de aliche com cebola, presas em palitinhos de dentes, de um prato de porcelana chinesa legítima em cima da mesinha de apoio à sua direita. O mesmo prato servia também ovinhos de codorna, mas desses o comensal seguramente desaprovava, ficava escolhendo só o que era gostoso do prato, não tinha a menor educação. Entre um ruidoso nhoque-nhoque e outro, prosseguia o discurso:
"Nessa sua mesma cadeira eu fui torturado como se eu fosse um desgraçado, como se eu não fosse digno de ser amado, como se eu fosse escória da terra, como se eu fosse um pedófilo, como se eu fosse militante do PT. Aquela desalmada, coisa igual nunca vi, aquela mulher tinha o coração mais peludo do que o peitoral do Tony Ramos, eu queria era morrer, cruzar os braços e morrer, cair no chão, cavar o buraco eu mesmo, eu não me importo, eu queria era morrer. Mas ela não deixou. Ela nunca deixou."
Nesse ponto a voz oscilava de emoção, de sentimento, não conseguiu segurar: deixou escorrer uma lágrima.
"Tortura como a dela eu nunca vi igual... Eu pensava que ia ser aquelas coisas dignas de homem, tipo chibatada nas costas, arame farpado na uretra, alfinete debaixo da unha, arrancar dente com a parte de trás da cabeça do martelo, você sabe, os clássicos. Aí eu pensava: 'não vou abrir a boca, estou preparado pra tortura, sou um homem ou não sou? Morro mas não falo nada' e no começo estufei o peito, todo seguro, certo de que minha dignidade masculina estava tranquila, que não ia dar em nada. Ela até começou com os clássicos. Apanhei de chicote, me botou na roda, rolou até aquele esquema chinês de gotinha na testa. Mas agora eu saquei qual é a dela, ela fez aquilo só pra rir da minha cara, pra me deixar confortável antes do.... Antes do elástico."
Tão logo encerrou sua frase, produziu, do bolso da farda, um elegante lenço de seda que usou para enxugar o rosto empapado de suor. Terminada a rápida sessão de higiene pessoal, desdobrou aquele quadrado de tecido e rapidamente, de seu interior, retirou um elástico. Voltando a guardar o lenço, curvou-se para frente a erguer o novo brinquedo à altura dos olhos de seu prisioneiro.
"Eu já testemunhei muitas torturas na vida, acredite, já vi como se faz na Coréia do Norte, já fiz como aqueles bárbaros africanos fazem, já li a Divina Comédia, já vi umas reportagens na Super Interessante sobre tortura medieval, eu sou tipo um connoisseur de tortura. E se eu sou um connoisseur de tortura, essa do elástico é o meu Le Romanée-Conti, safra de '06. É desse nível. Eu já botei muito KGB no sanatório só de fazê-los assistir a uma sessão da tortura do elástico e, uma vez, até um emissário do capeta veio aprender comigo e acabou não conseguindo, vomitou no próprio moleton."
Esticando o elástico entre os dedos, o Connoisseur pacientemente resguardou-se da conversa. Torturador talentoso que era, conhecia o suspense como companheiro, ciente de que a ignorância efetiva quanto aos procedimentos do castigo compreendiam seu mais doloroso flagelo. A espera percebeu-se longa, ansioso que estava: com saborosa certeza, à sua vítima, essa mesma espera logrou-se infinita.
"Você veio atrás de respostas e, pra sua infelicidade e minha alegria, foi capturado. Por isso eu tenho uma proposta pra você, que pra mim, no fundo, vai dar na mesma. Pra cada dia que você aguentar vivo eu te conto uma das histórias que você quer ouvir. Ou eu posso te matar agora. A grande verdade é que, de um jeito ou de outro, você vai morrer no fim das contas - o que eu estou te oferecendo é a opção. Uma morte limpa, indolor e ignorante... Ou pode provar dessa tortura especial, deluxe, suja, sangrenta, dolorosamente sofrida mas recheada de respostas que você não vai ter pra onde levar porque, invariavelmente, será morto no fim." Pigarreou. "Esses são os termos que eu ofereço. Algum comentário?"
O interrogado respirou devagar, e para satisfação do Connoisseur, fundo. Uma respiração funda que logo se tornou um suspiro. Um suspiro que logo se tornou um... Um suspiro de alívio? Agitando o all-star verde manchado de sangue, Lani Romée, um enorme peso imaginário descarregado de seus ombros, explicou, agora leve e de bem com a vida:
"Vixe... Quando você mencionou a tortura fodona aí eu fiquei até preocupado, pensei que a casa tivesse caído, que eu tava fufu... Mas graças a Deus mamãe só te ensinou o do elástico, o do elástico era ruim mas nem tanto, toda vez que eu não arrumava a cama rolava a do elástico. A pra quando eu cabulava aula era o castigo da mola. O castigo da mola, bixo... Esse sim era foda pra cacete."
Última edição por Lani Romée em Dom Jul 17, 2011 9:08 pm, editado 1 vez(es) |
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Dragus-kai Major
Ocupação : Dorgas
Registro : Dargus : Monstro : Goomba - nv. 8 / Traficante - nv. 4 / Beast Master - nv. 2
| Assunto: Re: Valentina Qua Jul 13, 2011 5:36 pm | |
| AEHUAEHAUEHAUEHAUEHUAEHAU |
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Gabs Capitão
Ocupação : Procrastinando
Registro : Gabs : Animal : Dinossauro lv barney | Grappler lv Indiana Jones
| Assunto: Re: Valentina Dom Jul 17, 2011 1:46 am | |
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