Diferente do tópico Herói Hacredista, esse espaço está aberto para que nós, Hacredistas eméritos e efetivos, possamos conferir a grandes homens do presente e do passado o título de Hacredista de Honra. Muitas pessoas, apesar de nunca terem de fato participado de nossa grandiosa comunidade democrática, vivem suas vidas conforme nossos preceitos e nossas convicções. Por nossa parte, nos cabe homenageá-los com um título honorífico para celebrarmos com brio essas verdadeiras personificações do são sentimento laranja.
Para abrir o tópico, anuncio ao mundo o nosso primeiro Hacredista de Honra:
DIÓGENES DE SÍNOPE!
Eu sou um detrator convicto de tudo relacionado aos gregos clássicos. Não suporto a soberba com que atenienses vomitavam patranhices diversas, e odeio ainda mais a indolência com a qual os admiradores fiéis de tais pensamentos tratam esses institutos verborrágicos e tontos; posto isso, e ainda assim, me sinto obrigado a falar desse grego em especial. Um cara não só hacredista de alma como também o pai de todos os badasses que esse planeta há de ver.
Diógenes é hoje considerado filósofo, mas a verdade é que ele nunca foi filósofo porque a sua maior herança é a escola do pensamento cínico, que era totalmente oposto ao pensamento clássico da época. Toda a artificialidade e pretensão da sociedade ateniense e sua decorrente hipocrisia eram sabia e duramente rechaçados pelo nosso Hacredista de Honra - Diógenes não era um desses masturbadores teóricos. Ah não, babaquice pra ele não, pelo contrário: Ele era um cara muito do machão. Machão demais pra essas mariquices atenienses.
Pra começo de conversa ele odiava Platão. Tudo que Platão dizia lhe provocava pândegas de risos. Ou riso ou nojo. Platão foi o chefe dessas palhaçadas do naipe da "Teoria das Idéias"; seu pensamento consistia em esmurrar um assunto com uma enxurrada de palavreado, como se fizesse sentido, até chegar a uma conclusão completamente arbitrária, um mero achismo dissimulado.
O desprezo que Diógenes nutria por essa prática platônica pode ser facilmente ilustrado: Certa vez, em uma reunião de filósofos, Sócrates, mestre de Platão, propôs a questão: "O que é um homem"? Platão, que sempre adorou chafurdar na estupidez de sua própria filosofia, respondeu de forma entusiasmada: "Bípede desprovido de penas".
Essa resposta foi, por incrível que pareça, bem recebida entre os presentes. Bem recebida é pouco. Não, essa bobagem descabida de resposta foi ovacionada mesmo. Menos por Diógenes. Diógenes, que como todo Hacredista sabe muito bem o que é um homem e sabe muito bem o que não é, não se contentou em simplesmente corrigir Platão nem bater boca com ninguém, que tentar discutir com filósofo é a maior merda. Filósofo tem o péssimo hábito de distorcer a realidade pra adequá-la aos seus argumentos abstratos e desprovidos de substância. É que nem discutir com mulher - não dá certo. Em vez disso, tranquilamente saiu andando e logo retornou com uma galinha depenada em mãos. Estendeu o bichano para Platão e anunciou: "Eis que lhe trago um homem!"
Em vez da zombaria surtir o efeito de fazer com que aqueles filósofos de quinta entendessem que um homem vai muito além da descrição corporal, logo decidiram: "Um homem é um bípede sem penas com unhas largas e planas". Depois dessa, mesmo que nada se fale nos registros, não seria arriscado também atribuir a Diógenes o primeiro facepalm da história.
Outro exemplo excelente para mostrar como Diógenes desprezava a abstração da filosofia, e particularmente, minha história favorita:
Certo dia Diógenes, como lhe era comum, estava deitado no chão em um canto qualquer sem fazer nada. Um de seus auto-intitulados discípulos aproximou-se subitamente, os olhos brilhando com a luz de quem descobriu os segredos do Universo, e vociferou, convicto:
"Mestre! Eu posso provar que o movimento e a locomoção não passam de ilusão! O movimento NÃO EXISTE!"
Diógenes simplesmente levantou-se do lugar e saiu andando.
O desdém pela filosofia era tão grande que o mestre a usava, de maneira claramente sarcástica, para fins próprios. Costumava esmolar na frente de prostíbulos. Quando juntava dinheiro suficiente, entrava na casa dos prazeres, fazia o que tinha que fazer, saía e voltava a esmolar. Quando indagado por qualquer um o motivo de esmolar, respondia na cara de pau: "Para lhe ensinar compaixão".
Mas o caso mais famoso de Diógenes se deu na presença de Alexandre, o grande.
Alexandre vocês sabem quem foi. Um formidável campeão da Macedônia que aos vinte anos de idade foi aclamado rei pelo seu povo e aos trinta anos de idade já havia conquistado por mérito de violentas e agressivas campanhas um dos maiores impérios da história antiga: Um guerreiro e conquistador não só feroz e competente, como também muito temido. Esse homem, ainda que então rei do mundo, em uma passagem por Coríntio, decidiu que queria conhecer Diógenes.
Alexandre logo deu de cara com o homem. Encontrou-o estirado no chão em um canto da cidade a preguiçosamente tomar um banho de sol. Como Diógenes, seja de propósito ou por distração, prosseguiu a ignorar a presença do rei macedônio, Alexandre o Grande aproximou-se, acompanhado por um grande séquito de seguidores e soldados. Ao perceber aquela reunião de estranhos, Diógenes calmamente fixou os olhos no majestoso visitante. Alexandre, aproveitando a deixa, e imbuído de todo o garbo e imponência que lhe era devido, apresentou-se:
"Sou Alexandre, o Grande. Saudações."
Àquela época todo mundo sabia quem era Alexandre, o Grande. Todo mundo. Alexandre era uma espécie de Rock Star misturado com uma figura política reconhecida mundialmente como o Obama. Ali, na presença de Diógenes, estava um homem não só extremamente admirado como vastamente temido. Se uma amálgama de Paul McCartney e God of War chega e se apresenta, ainda que seja uma apresentação dispensável, qualquer um se borra nas calças com essa honra. Se engasga pelo simples fato de estar na presença de tal pessoa. Explode de felicidade e de medo. Essa foi a resposta de Diógenes:
"Okay. Saia um pouco da frente do meu sol."
Ninguém zomba de Alexandre em público e sai vivo. Ninguém a não ser o nosso Hacredista de Honra. Alexandre, atônito e sem palavras para responder, saiu andando em envergonhada confusão, logo acompanhado de seus seguidores. Por fim, deixou escapar para um deles:
"Se eu não fosse Alexandre... Eu gostaria de ser Diógenes."
UMA SALVA DE TIROS PARA NOSSO PRIMEIRO HACREDISTA DE HONRA!
Assunto: Honraria Hacredista 
Sáb Mar 26, 2011 2:57 am
